Infraestrutura de transporte: quatro temas a serem observados

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Introdução

O fluxo constante de notícias sobre os gargalos da cadeia de suprimentos evidenciam a natureza essencial da infraestrutura de transporte e dos ativos logísticos em todo o mundo.

Embora o ápice da disrupção da cadeia de suprimentos provavelmente já tenha passado, ela expôs problemas que persistem, como infraestrutura obsoleta e capacidade, flexibilidade e eficiência insuficientes.

No entanto, a resiliência das cadeias de suprimentos é apenas o primeiro grande tema a ser observado neste universo (ver Imagem 1). Com o crescimento do comércio eletrônico e as mudanças fundamentais na maneira como as mercadorias se movimentam, as empresas de logística de transporte precisarão se adaptar. Essas empresas também precisarão "esverdear" seus ativos e redes para cumprir as metas de redução de emissões de carbono e as regulamentações ambientais emergentes à medida que as iniciativas globais de descarbonização se consolidam. Finalmente, a mudança dos padrões de mobilidade exigirá avanços em tecnologia para permitir novas opções que economizam tempo e são economicamente viáveis, atendendo à evolução das preferências dos passageiros.

Ativos críticos de transporte, como rodovias, ferrovias, transporte aéreo e marítimo, infraestrutura de logística e redes integradas, exigem investimentos significativos para eliminar ineficiências, aumentar a capacidade da malha, descarbonizar e proporcionar maior confiabilidade.

Investimentos são necessários para tornar as cadeias de suprimentos mais resilientes e para atender as mudanças significativas previstas para o e-commerce, descarbonização e mobilidade. Os últimos anos também evidenciaram o papel fundamental das redes de equipamentos de logística nas cadeias de suprimentos globais. Mas, sob a perspectiva de investidor, grandes demandas de capital muitas vezes criam oportunidades atraentes.

Adicionalmente, o cenário atual de inflação elevada e preços aquecidos de commodities ressalta ainda mais a importância fundamental da infraestrutura de transporte para a economia mundial, bem como a necessidade de mais investimentos.

Imagem 1: Quatro pontos a serem observados na infraestrutura de transporte

Temas-chave

Transport Infra Four Themes_pt-br

A necessidade de resiliência da cadeia de suprimentos

Nas últimas décadas, as indústrias adotaram o modelo “just-in-time”, em que peças são entregues às fábricas conforme a necessidade, reduzindo a obrigação de armazená-las.

Isto permitiu que fabricantes permanecessem ágeis e cortassem custos. Mas quando a pandemia de Covid-19 chegou, as cadeias de suprimentos lutaram para acompanhar o aumento da demanda à medida que as fábricas fecharam e o comércio global foi interrompido.

Como resultado, as indústrias tiveram que adotar o modelo de estoque “just-in-case” e, agora, locatários de instalações de logística procuram aumentar seus espaços de armazenamento para poder acomodar estoques de segurança. Consequentemente, as redes de transporte inbound e outbound precisarão ser reconstruídas para oferecer redundância, flexibilidade e segurança.

Aproximadamente 90% do comércio mundial é feito por transporte marítimo. No entanto, por questões de bloqueios e atrasos, o transporte de cargas usando a infraestrutura e equipamentos existentes diminuiu significativamente durante a pandemia (ver Imagen 2 e 3). Isto significou que a alta demanda por mercadorias foi de encontro às interrupções de trabalho nos portos, armazéns e empresas de caminhões - causando uma redução na produção e no tempo de giro dos ativos, o que estrangulou a capacidade disponível e resultou em backolog.

Imagem 2: A porcentagem de embarcações que chegam dentro do prazo despencou...

Figure 2: The Percentage of Shipping Vessels Arriving on Time Has Plunged…
Fonte: Bloomberg, Sea-Intelligence

Imagem 3: ...enquanto os portos continuam congestionados

Índice de congestionamento nos portos, diferença (%) entre o nível atual e a média dos últimos cinco anos

Figure 3: …While Ports Have Remained Congested
Fonte: Clarksons, pesquisa da Morgan Stanley de fevereiro de 2022

Com a menor utilização de ativos, o preço da capacidade dos transportes marítimo, ferroviário, aéreo e rodoviário disparou (ver Imagem 4).

Por exemplo, nos portos de Los Angeles e Long Beach (consideradas as principais portas de entrada de importações da Ásia nos EUA), infraestrutura obsoleta e a incapacidade de operar sem interrupção em alguns terminais contribuíram para um maior agravamento do congestionamento. Na verdade, o número de embarcações na fila desses terminais tornou-se um barômetro da ruptura da cadeia global de suprimentos. A fila ainda existe, mas o número de embarcações já diminuiu em mais de 50% em comparação ao pico registrado em janeiro de 2022 (ver Imagem 5). No entanto, os clientes têm se disposto a pagar um ágio significativo para garantir a capacidade e, pensando a longo prazo, têm procurado maneiras de controlar melhor a logística inbound de suas cadeias de abastecimento.

Para tornar os portos mais resilientes na gestão de tais volumes, eles precisarão se modernizar e se tornar mais eficientes por meio da tecnologia e automação. Para implementar essas melhorias em escala global, serão necessários mais investimentos em logística ágil e tecnológica, bem como em infraestrutura das cadeias de suprimentos. Os investimentos da Brookfield na Patrick Terminals, a maior operadora de terminais de contêineres da Austrália, e na TraPac, uma empresa de terminais de contêineres na costa oeste dos EUA, são exemplos dessa abordagem. O Porto de Rotterdam, na Holanda, é outro exemplo.

Imagem 4: O preço da capacidade mais do que triplicou em dois anos

Índice global de tarifas de frete

Figure 4: The Price of Capacity Has More Than Tripled in Two Years
Fonte: pesquisa do Citi, CCFI

Imagem 5: O congestionamento está diminuindo nos portos de Los Angeles e Long Beach

Número de navios ancorados/ociosos

Figure 5: Congestion Is Easing at the Port of Los Angeles/Long Beach
Fonte: The Port of Los Angeles, pesquisa global do BofA

O crescimento do comércio eletrônico

Durante anos, os gestores de cadeias de suprimentos procuraram reduzir seus estoques. No entanto, a pandemia acelerou uma mudança no comportamento dos consumidores, que passaram a gastar mais com mercadorias, principalmente online, e menos com serviços.

Considere a razão entre estoques e vendas, que indica o número de meses de estoque que estão à disposição em relação às vendas de um mês. Com uma média de 1,47 entre 2015 e 2019, a razão diminuiu significativamente desde o início da pandemia, atingindo 1,16 em março de 2022 (ver Imagem 6).

A atividade online exerce muita pressão sobre as redes de transporte. Ela exige um altíssimo grau de dependência das cadeias de suprimentos, mais rapidez no lançamento de produtos no mercado e o encurtamento das cadeias de abastecimento. Uma geração inteira de consumidores hoje espera que praticamente tudo o que compra online seja entregue no mesmo dia ou no dia seguinte, ressaltando a importância crítica das redes de entrega local (last-mile).

Atender a essas expectativas exigirá reavaliar a importância das reservas de estoque e a localização de ativos críticos, considerações que estão além do custo. Como resultado, empresas como a Amazon e o Walmart estão cada vez mais interessadas em possuir infraestrutura essencial para ajudar a garantir suas cadeias de suprimentos à medida que revisam como as mercadorias estão se deslocando do Ponto A para o Ponto B.

Como o comércio eletrônico continua crescendo, os estoques atuais precisam aumentar acima dos níveis anteriores à pandemia. E grande parte dos softwares, sistemas e redes de transporte precisa ser atualizada e redesenhada para atender essa nova realidade.

Imagem 6: Um estoque maior é necessário

Figure 6: More Inventory Is Needed
Fonte: U.S. Census Bureau

Uma geração inteira de consumidores hoje espera que praticamente tudo o que compra online seja entregue no mesmo dia ou no dia seguinte, ressaltando a importância crítica das redes de entrega local (last-mile).

A transição global para a descarbonização

A crescente urgência em torno da descarbonização levou muitas empresas de transporte a anunciar e a acelerar as metas para atingir emissões neutras de carbono.

Por exemplo, a Maersk, a segunda maior empresa de transporte marítimo do mundo em capacidade de contêineres, está antecipando em uma década, de 2050 para 2040, a meta de cortar o carbono de suas operações em resposta à crescente demanda de empresas como Amazon, Ikea e Unilever por uma cadeia de abastecimento livre de emissões.1  Nos próximos anos, muitas empresas de transporte precisarão investir um capital significativo na transição de seus ativos e modelos de negócios para cumprir as metas de emissões e atender às novas regulamentações ambientais.

O setor de transporte é responsável por aproximadamente 24% das emissões mundiais de CO22 e precisará reduzi-las em dois terços para cumprir a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2050.3

Ao mesmo tempo, à medida que a transição de energia se acelera, e à medida que a segurança do fornecimento de energia se torna um elemento cada vez mais influente, a demanda está aumentando para o transporte e armazenamento de commodities com menor emissão de carbono, como gás natural e hidrogênio (ver Imagens 7 e 8).

Imagem 7: A demanda por gás natural liquefeito está aumentando

Figure 7: Demand Is Trending Up for Liquefied Natural Gas
Fonte: pesquisa da Cheniere, Kpler, Bloomberg

Imagem 8: A produção de hidrogênio verde da Europa deve aumentar quatro vezes até 2030

Figure 8: Europe’s 4x Upgrade to Green Hydrogen Production by 2030
Fonte: Comissão da UE, pesquisa em investimento global da Goldman Sachs

Em 13 de abril, o Financial Times publicou: “Desesperada para acabar com sua dependência do petróleo e do gás da Rússia, e sofrendo com o aumento dos preços de energia, a Europa redescobre o GNL americano” (ver Imagem 9).4

Metas de redução de emissões de carbono podem ser atingidas por meio de uma combinação de eletrificação, combustíveis avançados e materiais aprimorados. Por exemplo, um terminal de contêineres em um porto precisará substituir seus equipamentos movidos a diesel por equipamentos de movimentação de carga que não emitem carbono. Além disso, equipamentos de transporte, como navios, trens e aviões, também precisarão abandonar o diesel. Fontes de energia, como biocombustíveis a hidrogênio, serão uma alternativa importante para os modos de transporte pesados, e a eletrificação poderá ser uma solução mais econômica e ecológica para veículos leves.5  Os biocombustíveis provavelmente serão muito importantes nas fases iniciais da transição energética.

Posicionar esses ativos para a economia de energia moderna representa uma oportunidade significativa. Para descarbonizar suas redes de logística, as empresas buscarão trabalhar com fornecedores de infraestrutura de transporte que sejam eficientes em termos energéticos e que tenham capital e experiência operacional.

Imagem 9: Exportações de gás natural liquefeito dos EUA devem continuar subindo

Pés cúbicos por dia (bil.)

Figure 9: U.S. Liquefied Natural Gas Exports Are Forecast to Continue Rising
Fonte: Financial Times e Administração de Informações de Energia dos EUA (EIA)
TraPac

Mudanças nos padrões de mobilidade

A pandemia mudou os padrões de mobilidade, com mais tempo sendo passado em casa ou perto dela - e muito menos tempo em viagens de avião (ver Imagem 10).

Mesmo em um futuro pós-pandemia, os destinos e as formas de viajar devem evoluir bastante, principalmente devido ao surgimento de novas tecnologias. Um bom exemplo disso é a maneira como a Uber e Lyft usaram a tecnologia para transformar a indústria de táxis, permitindo ao usuário pedir carros pelo celular, resultando em preços mais baixos e formas de pagamento facilitados.

Hoje, tecnologia e serviços digitais estão se tornando cada vez mais importantes nas redes de transporte, e o surgimento de novos negócios no setor demonstram bem essa mudança. Por exemplo, em janeiro de 2022, o grupo italiano Atlantia, responsável por administrar rodovias pedagiadas, adquiriu a Yunex Traffic, uma unidade da Siemens, por € 950 milhões.6  A Yunex fornece soluções de tráfego “inteligentes” em mais de 600 cidades, como automação de túneis, pedágio inteligente e sistemas de tráfego adaptáveis para simulação e previsão. A aquisição mostra como as mudanças atuais e esperadas no setor de mobilidade irão incentivar a criação de novas infraestruturas e serviços para gerenciar o tráfego e controlar as emissões dentro e fora dos centros urbanos.

Os avanços na tecnologia e a eletrificação das aeronaves também podem tornar a mobilidade aérea urbana passível de investimentos nos próximos anos - especialmente se for silenciosa, barata e segura. O desenvolvimento de aeronaves elétricas capazes de fazer pousos e decolagens de modo vertical pode ajudar a aliviar o trânsito urbano, principalmente em cidades em pleno desenvolvimento mas com limitações de investimento público em infraestrutura.7 No entanto, temos que resolver muitas questões importantes primeiro, tais como a opinião e aceitação pública e a regularização pelos órgãos de aviação. Se a indústria de mobilidade aérea urbana decolar, a construção da infraestrutura de aterrissagem - talvez no topo de estacionamentos ou edifícios de escritórios - será necessária.

Imagem 10: o número viagens de negócios nos EUA continua aproximadamente 33% inferior aos níveis de 2019

Crescimento do volume de passagens aéreas

Figure 10: U.S. Corporate Air Travel Remains ~33% Below 2019 Levels
Fonte: BofA Global Research, visão geral das companhias aéreas por Andrew George Didora

Conclusão

Os acontecimentos dos últimos anos têm evidenciado a importância e a natureza crítica da infraestrutura de transporte. Para reforçar as redes atuais, será necessária capacidade adicional e investimentos substanciais, impulsionados pelas principais tendências que influenciam o setor, incluindo os desafios da cadeia de suprimentos, o crescimento contínuo do comércio eletrônico, a transição para a descarbonização e o aumento da mobilidade. Como muitos governos agora têm balanços altamente endividados, o mercado privado está posicionado para desempenhar um papel proeminente no fornecimento do capital necessário.

Ativos críticos e estáveis de infraestrutura podem se beneficiar de muitas das tendências macroeconômicas que prevalecem nos mercados atuais, incluindo volumes mais altos, inflação crescente, preços fortes de commodities e capacidade reduzida devido a gargalos na cadeia de suprimentos.

As empresas de infraestrutura de transporte essencial e de grande escala têm outras vantagens. Normalmente, elas contam com uma localização ou um corredor geográfico preferencial e estabelecido, um alto investimento inicial de custo fixo e baixos custos operacionais não variáveis. Esses atributos podem resultar em margens elevadas e barreiras de entrada altas. Por exemplo, segundo um relatório do BofA Global Research de dezembro de 2021, ativos maduros de rodovias pedagiadas normalmente obtêm margens EBITDA entre 60 e 75%, sendo que alguns ultrapassam 80%.8

Apesar do congestionamento, no ano passado, o porto de Los Angeles quebrou o recorde de importação de contêineres de 2018 em 13%.9 Na verdade, o negócio de terminais de contêineres pode se beneficiar quando há atrasos ao cobrar valores adicionais de sobrestadia, por exemplo. Por fim, quando a demanda por infraestrutura logística é alta, as empresas de larga escala podem praticar tarifas mais altas, pois os clientes competem por capacidade limitada.

Como em qualquer investimento, há sempre um risco a ser considerado. Por exemplo, a infraestrutura de transporte costuma ser influenciada pelas variações do PIB, pois suas receitas são impulsionadas pelo crescimento econômico. Entretanto, a natureza essencial dos ativos, o forte poder de fixação de preços e uma perspectiva positiva de demanda a longo prazo tendem a mitigar este risco.

Olhando para o futuro, esperamos que as empresas de infraestrutura de transporte busquem cada vez mais parceiros que possam fornecer capital, juntamente com experiência operacional, e que tenham visto a durabilidade desses ativos em primeira mão através de diferentes ciclos econômicos e períodos de perturbação. São exatamente essas ferramentas que as empresas precisarão para construir ativos mais fortes e resilientes, e redes maiores e mais eficientes.

GWR

Notas finais:

1. Maersk, “A.P. Moller - Maersk accelerates Net Zero emission targets to 2040 and sets milestone 2030 targets”, 12 de janeiro de 2022
2. Agência Internacional de Energia (AIE), “CO2 emissions by sector, World 1990-2019”
3. Fórum Internacional de Transporte, “ITF Transport Outlook 2021”
4. Financial Times, “Biden and Ukraine: from climate champion to oil price panic”, 13 de abril de 2022
5. Shell, Deloitte, “Decarbonizing road freight: Getting into gear” 2021
6. Atlantia, “Atlantia agrees acquisition of Yunex Traffic from Siemens”, 17 de janeiro de 2022
7. Financial Times, “Air taxis: flight of fantasy or truly set for lift off?”, 30 de janeiro de 2022
8. BofA Global Research, “Launching on Infrastructure: Entering a €2tn stimulus ‘Golden Era’”, 10 de dezembro de 2021
9. Port of Los Angeles, “Port of Los Angeles Breaks Cargo Record in 2021, Sets Priorities for 2022”, 20 de janeiro de 2022

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