Perguntas e respostas: A Tecnologia e o futuro dos ativos reais

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A tecnologia está influenciando todos os aspectos da economia global, estimulando crescimento, impulsionando lucratividade e criando novos mercados e líderes de setor.

Ao mesmo tempo, vários setores tradicionais de grande porte, como o imobiliário, de transporte, de energia e de construção, permanecem em estágios relativamente iniciais de transformação digital e estão cada vez mais buscando ferramentas e soluções que viabilizem a automação.

Aqui, três líderes seniores do Private Equity Group da Brookfield — Anuj Ranjan, Josh Raffaelli e Doug Bayerd — discutem como a inovação está transformando a forma como esses setores operam e gerando oportunidades de investimento nas empresas de tecnologia que fomentam essa transformação.

Q&A Technology and the Future of Real Assets

P: O que está impulsionando as oportunidades de investimento em tecnologia?

Anuj Ranjan: Software se tornou a nova infraestrutura. Ele forma a espinha-dorsal da economia global, e permeia tudo o que fazemos pessoal e profissionalmente. E agora, uma transformação digital está em andamento em setores tradicionais, tais como manufatura, construção, indústria, imobiliário e infraestrutura.

As empresas desses setores, que são algumas das maiores e mais importantes do mundo, estão investindo significativamente em tecnologia para impulsionar a automação, aumentar a conectividade e permitir que os usuários usufruam o poder dos seus dados. Nossa expectativa é que o investimento nestes negócios historicamente sub-digitalizados triplique nos próximos 10 anos (ver Imagem 1). Devido aos tipos de margens que acreditamos que estas empresas devem obter, acreditamos que este investimento ajudará a gerar mais de US$ 12 trilhões de equity value para acionistas e investidores ao longo da próxima década.

Imagem 1: Investimentos em tecnologia estão aumentando nos setores tradicionais

Figure 1: Technology Expenditures Are Rising in Traditional Industries

P: Com todo o capital disponível no mundo, as empresas de tecnologia tem sido supervalorizadas?

Josh Raffaelli: O que aconteceu nos últimos 30 anos foi a evolução de um setor totalmente novo. O valor de mercado das empresas de tecnologia na lista da Fortune 1000 chega a US$ 15 trilhões. Tudo isso para dizer que essas empresas são reais e vieram para ficar.

Um termo importante relacionado a software é a retenção líquida. Pense no setor imobiliário: imagine que um inquilino que paga US$ 1 de aluguel hoje vai pagar US$ 1,50 no ano que vem sem mudar nada. Esse é o valor de uma retenção líquida de 150% de uma empresa que vende software para uma grande empresa. Isso é poderoso, pois mostra o que o software e a tecnologia podem fazer e por que as valuations são tão altas.

Ranjan: A recente correção no setor de tecnologia foi claramente significativa. De acordo com a Morgan Stanley, os múltiplos de valuation dos provedores de software estão negociados atualmente abaixo da média dos últimos cinco anos (ver Imagem 2). Mas, considerando-se que muitas delas são grandes empresas que prestam serviços de tecnologia ligados à infraestrutura, estamos entusiasmados com a oportunidade de poder investir nelas a preços atrativos.

Ao mesmo tempo, nem toda tecnologia é criada da mesma forma. Existem empresas de maior crescimento/menor rentabilidade e empresas de menor crescimento/maior rentabilidade. As primeiras geralmente são negociadas a múltiplos muito maiores, quase o dobro dos múltiplos destas últimas. A maioria das soluções empresariais que buscamos se enquadram na categoria de maior rentabilidade, por isso, é bom que os mercados não as valorizem tanto quanto valorizam as empresas de maior crescimento.

Imagem 2: Grupo geral de cobertura de software abaixo da média dos últimos 5 anos

Figure 2 Overall Software Coverage Group Below the Trailing 5-Year Average
Fonte: pesquisa da Morgan Stanley, Refinitiv, dados da empresa

Doug Bayerd: Não apenas isso, mas a correção recente nas ações de empresas de tecnologia teve um impacto relevante nos múltiplos das empresas de alto crescimento, ao passo que as ações de empresas de baixo crescimento tiveram poucas mudanças (ver Imagem 3). Na minha opinião, essa divergência nos preços reflete uma mudança no foco do investidor, de crescimento para rentabilidade. Naturalmente, a queda verificada nas empresas de maior crescimento também criou oportunidades em algumas empresas que antes estavam muito caras. O segredo em todos os mercados é se concentrar em investir em negócios de alta qualidade que prestem serviços essenciais.

Imagem 3: Ações de empresas de baixo crescimento praticamente não foram afetadas pela recente correção do mercado

<em>Enterprise Value</em>/próximos 12 meses - Múltiplos de Receita ao longo do tempo

Figure 3 Low-Growth  Stocks Have  Been Relatively  Unaffected by the Recent Market  Correction
Fonte: Capital IQ, Bloomberg, Factset e IBES. Dados de 13 de maio de 2022

P: Finance 101 afirma que o valor de uma empresa é o valor presente líquido dos seus fluxos de caixa futuros. Essas receitas acabam se traduzindo em fluxos de caixa? Essa regra ainda existe ou foi reescrita inteiramente?

Bayerd: Absolutamente. Essa regra ainda existe. As empresas de tecnologia são mantidas nos mesmos padrões de investimento que qualquer outro setor dentro da Brookfield. Os investimentos que fazemos em empresas de tecnologia dão suporte à entrega de produtos essenciais a clientes empresariais e fazem parte do fluxo de trabalho diário do usuário final. Como essas empresas têm receitas recorrentes previstas por contrato, temos bastante confiança em sua capacidade de gerar fluxos de caixa livres. Essa confiança decorre do fato de os clientes relutarem em abrir mão de produtos que estão enraizados em sua força de trabalho. Requalificar toda a equipe em um processo ou procedimento novo provavelmente levará a uma perda de produtividade a curto prazo, além de não gerar economias significativas no médio e longo prazo.

Portanto, constatamos que os clientes tendem a continuar com o uso desses tipos de software. Essa inércia é importante, pois as empresas em que investimos também tendem a ter margens brutas altas, despesas operacionais relativamente estáveis e despesas de capital limitadas. Em outras palavras, se conseguirmos examinar e garantir o fluxo de receita com um alto grau de confiança, poderemos determinar, também com alto grau de confiança, quando esperar fluxos de caixa livres com margens altas. Um bom exemplo seria o Microsoft Excel. Seria realmente difícil remover esse software de nossos computadores, dada a forma como treinamos nosso pessoal para trabalhar e gerenciar nossos negócios atualmente.

P: O setor de construção parece ser um dos menos digitalizados do mundo, o que pode levar a uma enorme ineficiência. Trata-se de uma oportunidade de investimento?

Raffaelli: Esse é um dos principais focos da Brookfield. Para ilustrar a extensão dessa oportunidade, em 1994, a produtividade por trabalhador nos setores de manufatura e construção era a mesma, US$ 64.000 por funcionário. Vinte anos depois, esse número quase dobrou no setor fabril, alcançando US$ 106.000, mas permaneceu totalmente inalterado no setor de construção. Um de nossos primeiros investimentos em growth foi em uma empresa que ajuda a simplificar os processos envolvidos em projetos de construção. Considere um empreiteiro que precisa contratar vários prestadores de serviço. Como tornar esse processo mais eficiente? A menos que tenham uma solução de tecnologia, eles terão de lidar com pilhas de papéis, o que dificulta a comparação entre encanadores, eletricistas, pedreiros etc. Uma das empresas em nosso portfólio digitalizou o fluxo de trabalho para tornar esse processo mais eficiente.

Outra empresa do portfólio está ajudando a melhorar a transferência de recursos entre um desenvolvedor como a Brookfield e um banco. O software dessa empresa automatiza fluxos de trabalho manuais e centraliza informações sobre empréstimos para que os bancos possam tomar decisões mais rápidas e embasadas de concessão de crédito. Estamos muito interessados nessa área. Ela levou muito tempo para ser digitalizada e vemos oportunidades significativas de crescimento e expansão.

Bayerd: Estamos vendo uma explosão de atividade no setor imobiliário e de construção na fase de investimentos em growth. Softwares estão digitalizando e automatizando processos que costumavam ser manuais. O setor imobiliário não é diferente de todos os outros que passaram por essa evolução. À medida que o software continua a permear o setor, temos esperança de que isto resulte em negócios maiores, nos quais podemos investir em escala.

Ranjan: Há muitos outros exemplos em que a tecnologia está ajudando a transformar setores mais tradicionais que giram em torno de ativos reais. No setor imobiliário, investimos em uma fabricante de fechaduras digitais inteligentes e imediatamente implementamos seus produtos em 40 mil das nossas unidades multifamiliares nos EUA. Graças à nossa experiência como proprietários e operadores de ativos reais, tivemos uma visão muito clara do que essa tecnologia poderia fazer se usada em propriedades como as nossas. Na área da saúde, investimos em uma provedora de telemedicina. Durante a pandemia, quando a empresa precisou de 87 novos espaços físicos praticamente da noite para o dia, fomos capazes de fornecer esses locais em nossos escritórios e centros de compras nos EUA.

Ser capaz de identificar estes tipos de sinergias nos permite decidir especificamente e de forma muito criteriosa onde queremos investir.

P: Em que outras áreas a tecnologia tem impacto significativo?

Ranjan: No setor de energias renováveis, algumas empresas estão adotando a tecnologia em ritmo acelerado para atender aos compromissos ESG. Por exemplo, é preciso ter um software empresarial para medir e rastrear as iniciativas de neutralização de carbono. No setor de infraestrutura, há a digitalização da cadeia de suprimentos, como a automatização de portos ou a adoção de caminhões autônomos. No setor imobiliário, há uma evolução no espaço de trabalho e na maneira de trabalhar, e a tecnologia está desempenhando um grande papel para melhorar a conectividade e aumentar a produtividade. No setor de crédito, alguns softwares inovadores ajudam os credores a oferecerem empréstimos com mais eficiência e rapidez. No setor de seguros, softwares empresariais têm papel importante na transformação digital para impulsionar retornos adicionais em um ambiente de baixa taxa de juros. Também estamos nos dedicando bastante à avaliação de negócios em segurança cibernética. Acreditamos que essa área possa gerar fluxos de caixa estáveis e semelhantes aos do setor de infraestrutura. Se você tiver o software certo para um determinado setor, as pessoas pagarão por ele para sempre.

Bayerd: O objetivo é fazer parceria com equipes de gestão como um investidor diferenciado por meio de informações diferenciadas. Isso é feito servindo como a voz do cliente, já que a Brookfield é o cliente em muitas circunstâncias. Também podemos fornecer insights para empresas que desejam se expandir para novos mercados e geografias, dada a presença da Brookfield ao redor do mundo. Em muitos casos, testemunhamos em primeira mão o crescimento do software nessas indústrias e como a tecnologia está sendo adotada para resolver problemas no local de trabalho.

Em tudo o que fazemos, estamos observando a tecnologia desempenhar um papel fundamental na mudança dos negócios.

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