P: Finance 101 afirma que o valor de uma empresa é o valor presente líquido dos seus fluxos de caixa futuros. Essas receitas acabam se traduzindo em fluxos de caixa? Essa regra ainda existe ou foi reescrita inteiramente?
Bayerd: Absolutamente. Essa regra ainda existe. As empresas de tecnologia são mantidas nos mesmos padrões de investimento que qualquer outro setor dentro da Brookfield. Os investimentos que fazemos em empresas de tecnologia dão suporte à entrega de produtos essenciais a clientes empresariais e fazem parte do fluxo de trabalho diário do usuário final. Como essas empresas têm receitas recorrentes previstas por contrato, temos bastante confiança em sua capacidade de gerar fluxos de caixa livres. Essa confiança decorre do fato de os clientes relutarem em abrir mão de produtos que estão enraizados em sua força de trabalho. Requalificar toda a equipe em um processo ou procedimento novo provavelmente levará a uma perda de produtividade a curto prazo, além de não gerar economias significativas no médio e longo prazo.
Portanto, constatamos que os clientes tendem a continuar com o uso desses tipos de software. Essa inércia é importante, pois as empresas em que investimos também tendem a ter margens brutas altas, despesas operacionais relativamente estáveis e despesas de capital limitadas. Em outras palavras, se conseguirmos examinar e garantir o fluxo de receita com um alto grau de confiança, poderemos determinar, também com alto grau de confiança, quando esperar fluxos de caixa livres com margens altas. Um bom exemplo seria o Microsoft Excel. Seria realmente difícil remover esse software de nossos computadores, dada a forma como treinamos nosso pessoal para trabalhar e gerenciar nossos negócios atualmente.
P: O setor de construção parece ser um dos menos digitalizados do mundo, o que pode levar a uma enorme ineficiência. Trata-se de uma oportunidade de investimento?
Raffaelli: Esse é um dos principais focos da Brookfield. Para ilustrar a extensão dessa oportunidade, em 1994, a produtividade por trabalhador nos setores de manufatura e construção era a mesma, US$ 64.000 por funcionário. Vinte anos depois, esse número quase dobrou no setor fabril, alcançando US$ 106.000, mas permaneceu totalmente inalterado no setor de construção. Um de nossos primeiros investimentos em growth foi em uma empresa que ajuda a simplificar os processos envolvidos em projetos de construção. Considere um empreiteiro que precisa contratar vários prestadores de serviço. Como tornar esse processo mais eficiente? A menos que tenham uma solução de tecnologia, eles terão de lidar com pilhas de papéis, o que dificulta a comparação entre encanadores, eletricistas, pedreiros etc. Uma das empresas em nosso portfólio digitalizou o fluxo de trabalho para tornar esse processo mais eficiente.
Outra empresa do portfólio está ajudando a melhorar a transferência de recursos entre um desenvolvedor como a Brookfield e um banco. O software dessa empresa automatiza fluxos de trabalho manuais e centraliza informações sobre empréstimos para que os bancos possam tomar decisões mais rápidas e embasadas de concessão de crédito. Estamos muito interessados nessa área. Ela levou muito tempo para ser digitalizada e vemos oportunidades significativas de crescimento e expansão.
Bayerd: Estamos vendo uma explosão de atividade no setor imobiliário e de construção na fase de investimentos em growth. Softwares estão digitalizando e automatizando processos que costumavam ser manuais. O setor imobiliário não é diferente de todos os outros que passaram por essa evolução. À medida que o software continua a permear o setor, temos esperança de que isto resulte em negócios maiores, nos quais podemos investir em escala.
Ranjan: Há muitos outros exemplos em que a tecnologia está ajudando a transformar setores mais tradicionais que giram em torno de ativos reais. No setor imobiliário, investimos em uma fabricante de fechaduras digitais inteligentes e imediatamente implementamos seus produtos em 40 mil das nossas unidades multifamiliares nos EUA. Graças à nossa experiência como proprietários e operadores de ativos reais, tivemos uma visão muito clara do que essa tecnologia poderia fazer se usada em propriedades como as nossas. Na área da saúde, investimos em uma provedora de telemedicina. Durante a pandemia, quando a empresa precisou de 87 novos espaços físicos praticamente da noite para o dia, fomos capazes de fornecer esses locais em nossos escritórios e centros de compras nos EUA.
Ser capaz de identificar estes tipos de sinergias nos permite decidir especificamente e de forma muito criteriosa onde queremos investir.
P: Em que outras áreas a tecnologia tem impacto significativo?
Ranjan: No setor de energias renováveis, algumas empresas estão adotando a tecnologia em ritmo acelerado para atender aos compromissos ESG. Por exemplo, é preciso ter um software empresarial para medir e rastrear as iniciativas de neutralização de carbono. No setor de infraestrutura, há a digitalização da cadeia de suprimentos, como a automatização de portos ou a adoção de caminhões autônomos. No setor imobiliário, há uma evolução no espaço de trabalho e na maneira de trabalhar, e a tecnologia está desempenhando um grande papel para melhorar a conectividade e aumentar a produtividade. No setor de crédito, alguns softwares inovadores ajudam os credores a oferecerem empréstimos com mais eficiência e rapidez. No setor de seguros, softwares empresariais têm papel importante na transformação digital para impulsionar retornos adicionais em um ambiente de baixa taxa de juros. Também estamos nos dedicando bastante à avaliação de negócios em segurança cibernética. Acreditamos que essa área possa gerar fluxos de caixa estáveis e semelhantes aos do setor de infraestrutura. Se você tiver o software certo para um determinado setor, as pessoas pagarão por ele para sempre.
Bayerd: O objetivo é fazer parceria com equipes de gestão como um investidor diferenciado por meio de informações diferenciadas. Isso é feito servindo como a voz do cliente, já que a Brookfield é o cliente em muitas circunstâncias. Também podemos fornecer insights para empresas que desejam se expandir para novos mercados e geografias, dada a presença da Brookfield ao redor do mundo. Em muitos casos, testemunhamos em primeira mão o crescimento do software nessas indústrias e como a tecnologia está sendo adotada para resolver problemas no local de trabalho.
Em tudo o que fazemos, estamos observando a tecnologia desempenhar um papel fundamental na mudança dos negócios.